Futebol-Arte X Futebol-Força

O futebol brasileiro, enquanto um esporte de massa, é uma forma de expressão de nossa cultura. Constitui-se numa série de dramatizações da população (DaMatta, 1982), ou seja, representa uma espécie de reflexo das atitudes, anseios e manifestações da sociedade brasileira. É uma modalidade provinda de outra nação e que rapidamente tornou-se o esporte número um do país, sem que grandes alterações às regras fossem feitas (Vogel, 1982; Betti, 1993). 
O início da prática foi restrita à elite que, por intermédio desse esporte, encontrou uma maneira de fazer parte da modernidade, pois foi trazido de um lugar considerado culturalmente avançado. Por ser influenciada pela cultura, a forma de se expressar através do esporte é diferente de uma nação para outra. Assim, o futebol praticado pelos países é diferente e, conseqüentemente, cada povo apresenta um estilo próprio de praticar futebol. Existem duas escolas distintas quanto ao estilo de jogo. 

As nações que praticam um futebol mais criativo pertencem à escola do chamado futebol-arte e as que visam somente o resultado, pertencem ao futebol-força. Para analisar o atual estilo de jogo brasileiro, recorremos aos técnicos de futebol profissional, pois são estes os responsáveis por montar e estabelecer a forma de jogar dos times. Foram entrevistados oito técnicos de equipes do Estado de São Paulo, todos da primeira divisão do futebol brasileiro. 

Futebol-Arte X Futebol-Força 

Por fazer parte da cultura, o futebol praticado no mundo também apresenta suas características. O estilo de jogo brasileiro é diferente do europeu. Essa diferença no estilo de jogo criou o paradigma do futebol-arte e do futebol-força. Considerando o futebol como um fenômeno cultural, analisamos, por intermédio da opinião de técnicos, o tipo de futebol praticado no Brasil, ou seja, se o futebol brasileiro se enquadra na concepção do futebol criativo que é o chamado futebol-arte, ou se o futebol jogado aqui é o de resultados, o chamado futebol-força. A questão norteadora da pesquisa foi a seguinte: “A questão Futebol-Arte X Futebol-Força tem um grande destaque no Brasil. Como você analisa essa questão dentro do futebol brasileiro?”. 

Outras perguntas deram corpo às entrevistas, como: “O futebol apresenta diversas características quanto ao estilo de jogo no mundo todo. Como você analisa o estilo de jogo do futebol brasileiro?”; “O futebol brasileiro sofreu muitas alterações quanto ao estilo de jogo ao longo dos anos?”; “Qual método de jogo deveria ser adotado como designador do estilo brasileiro nos campos de futebol?”; “Como você analisa o estilo de jogo da Seleção Brasileira?; “Atualmente qual jogador reúne o maior número de qualidades que poderia caracterizá-lo como sendo representante do verdadeiro estilo de jogo brasileiro?”. 

Os técnicos entrevistados levantaram pontos comuns em suas respostas. Para eles, o desenvolvimento da condição física é um fator que não pode ser desprezado na hora de montar a equipe. São adeptos de um futebol ofensivo, caracterizado principalmente pela habilidade e criatividade de seus jogadores. Destacaram a importância do futebol de rua e de várzea na formação dos jogadores brasileiros. 

1 Esse texto constitui-se em síntese do relatório final de pesquisa de iniciação científica, realizada em 2002 e 2003 na Faculdade de Educação Física da UNICAMP, sob orientação do Prof. Dr. Jocimar Daolio. 



Futebol, por Carlos Drummond de Andrade 

Futebol se joga no estádio? Futebol se joga na praia, futebol se joga na rua, futebol se joga na alma. 
A bola é a mesma: forma sacra para craques e pernas de pau. Mesma a volúpia de chutar na delirante copa-mundo ou no árido espaço do morro. 

São voos de estátuas súbitas, desenhos feéricos, bailados de pés e troncos entrançados. Instantes lúdicos: flutua o jogador, gravado no ar

 — afinal, o corpo triunfante da triste lei da gravidade.


                                                             Pesquisa - Magno Moreira