Para o lateral não se consagrar, tinha que ser de uma ruindade suprema - o perna de pau em estado bruto. Só assim. Porque era fácil, fácil: só fechar os olhos e mandar na área. Não havia bola suficientemente alta para driblar o impulso de João. Não havia zagueiro parrudo o bastante para controlar João Ramos. Não havia goleiro ousado a ponto de disputar pelo alto com João Ramos do Nascimento, um tal de seu Dondinho, craque de bola no final dos anos 30 e inicio dos 40, quando o interior de Minas Gerais parecia maior que o mundo. Ele tinha o posicionamento de mil Romários, dizem os exagerados. Tinha o cabeceio de mil Dadás, atestam as testemunhas de defesa de seu futebol.
E fez o que nem Pelé fez. Fez cinco gols de cabeça no mesmo jogo.Quem garante? Um bocado de gente, incluindo o próprio Pelé, sempre que pode. E por que Pelé gosta de dizer isso? Porque Dondinho é o pai dele. Pois veja: Pelé fez mais de mil gols, ganhou três Copas, virou o maior de todos os tempos, conquistou o escambau. Mas não fez cinco gols de cabeça em um mesmo jogo. Nunca. Já Dondinho conseguiu. E talvez não tenha sido uma vezinha só, não.
Há relatos de dois jogos com uma mão cheia de cabeceios certeiros.Os causos do pai do Rei abrem a série "Histórias Incríveis", novo quadro do GLOBOESPORTE.COM com episódios curiosos do esporte brasileiro. Duas décadas antes de o camisa 10 começar a espantar olhares, Dondinho era a majestade na zona sul mineira. Setenta anos depois, ele mantém gerações de admiradores na região - mas nenhum tão fã quanto seu filho.Dondinho andava inspirado naquela época. Em mais de um sentido... Enquanto empilhava gols, ele arrumava tempo para namorar. Resultado: sua esposa, dona Celeste, ficou grávida dele no início de 1940, meses depois de o artilheiro fazer cinco gols de cabeça em uma única partida.
Em outubro daquele ano, em Três Corações, nasceria Edson, que depois viraria Pelé. Eram tempos de amadorismo. Raros eram os jogadores que recebiam alguns trocados para jogar. Os principais atletas do interior mineiro pipocavam de clube em clube. Defendiam uma camisa, mas eram chamados para vestir outras e iam sem problemas, por mais que houvesse rivalidade local - geralmente, para disputar um ou outro jogo e depois voltar à equipe de sua cidade. Dondinho era o maior astro. Recebia convites o tempo todo. E abria exceções em seu coração, cujo maior afeto era dividido entre o Atlético de Três Corações e o Vasco de São Lourenço. Um assédio comum era do Yuracan, de Itajubá. Na cidade, ainda hoje com menos de 100 mil habitantes, raros eram os eventos que interessavam mais do que o clássico contra o Smart. Pois em 1939 Dondinho foi chamado para disputar a grande partida local.
Há controvérsias sobre o placar da partida. O site oficial do Yuracan diz que foi 6 a 2. No filme "Pelé Eterno", aparece uma manchete de jornal com 6 a 3. Registros da imprensa da época e a passagem da história por gerações mantiveram a lenda viva. O próprio Dondinho gostava de se gabar do feito para Pelé. Dizia que o filho tinha feito de tudo, menos cinco gols de cabeça no mesmo jogo.
O camisa 10 adotou a história. Gostava de manusear uma revista com a descrição do feito. No ano passado, quando foi entrevistado por Jô Soares, Pelé comentou a façanha do pai. - Meu pai, o Dondinho, era muito conhecido, fazia muitos gols. O Dondinho foi o único jogador que fez cinco gols de cabeça num jogo. Foi meu pai. O único recorde de gols que o Pelé não quebrou foi esse - disse o tricampeão mundial. Em "Pelé Eterno", aparecem pai e filho brincando sobre o feito.
O Rei ironiza Dondinho: "Você não tem gravação disso, tem?". O ex-atacante é obrigado a anuir: "Não...". Afinal, eram tempos bem menos tecnológicos, os registros não eram tão simples. Mas a história resiste. - O jogo aconteceu. Eu vi um recorte de jornal com o relato dele - atesta Aníbal Massaini, diretor de "Pelé Eterno". A foto que está na abertura deste texto é justamente do time do Yuracan de 1939. Dondinho está nela. Trata-se, garantem diretores do clube e moradores de Itajubá, justamente da imagem do dia dos cinco gols. - Consegui a foto com o presidente do clube. Desse jogo, o único registro que temos é essa foto. Mas aqui se comenta muito sobre essa partida. O próprio Dondinho dizia que tinha um recorde que o Pelé não bateu. Comenta-se que ele pulava muito, fazia muitos gols de cabeça. Mas ele não era jogador do Yuracan. Vinha esporadicamente. Não chegou a jogar um campeonato inteiro aqui - comenta Beto Simões Machado, colunista de futebol de um jornal local.
Pesquisa - Magno Moreira
Fonte - Baú do Esporte - http://globoesporte.globo.com
E fez o que nem Pelé fez. Fez cinco gols de cabeça no mesmo jogo.Quem garante? Um bocado de gente, incluindo o próprio Pelé, sempre que pode. E por que Pelé gosta de dizer isso? Porque Dondinho é o pai dele. Pois veja: Pelé fez mais de mil gols, ganhou três Copas, virou o maior de todos os tempos, conquistou o escambau. Mas não fez cinco gols de cabeça em um mesmo jogo. Nunca. Já Dondinho conseguiu. E talvez não tenha sido uma vezinha só, não.
Há relatos de dois jogos com uma mão cheia de cabeceios certeiros.Os causos do pai do Rei abrem a série "Histórias Incríveis", novo quadro do GLOBOESPORTE.COM com episódios curiosos do esporte brasileiro. Duas décadas antes de o camisa 10 começar a espantar olhares, Dondinho era a majestade na zona sul mineira. Setenta anos depois, ele mantém gerações de admiradores na região - mas nenhum tão fã quanto seu filho.Dondinho andava inspirado naquela época. Em mais de um sentido... Enquanto empilhava gols, ele arrumava tempo para namorar. Resultado: sua esposa, dona Celeste, ficou grávida dele no início de 1940, meses depois de o artilheiro fazer cinco gols de cabeça em uma única partida.
Em outubro daquele ano, em Três Corações, nasceria Edson, que depois viraria Pelé. Eram tempos de amadorismo. Raros eram os jogadores que recebiam alguns trocados para jogar. Os principais atletas do interior mineiro pipocavam de clube em clube. Defendiam uma camisa, mas eram chamados para vestir outras e iam sem problemas, por mais que houvesse rivalidade local - geralmente, para disputar um ou outro jogo e depois voltar à equipe de sua cidade. Dondinho era o maior astro. Recebia convites o tempo todo. E abria exceções em seu coração, cujo maior afeto era dividido entre o Atlético de Três Corações e o Vasco de São Lourenço. Um assédio comum era do Yuracan, de Itajubá. Na cidade, ainda hoje com menos de 100 mil habitantes, raros eram os eventos que interessavam mais do que o clássico contra o Smart. Pois em 1939 Dondinho foi chamado para disputar a grande partida local.
Há controvérsias sobre o placar da partida. O site oficial do Yuracan diz que foi 6 a 2. No filme "Pelé Eterno", aparece uma manchete de jornal com 6 a 3. Registros da imprensa da época e a passagem da história por gerações mantiveram a lenda viva. O próprio Dondinho gostava de se gabar do feito para Pelé. Dizia que o filho tinha feito de tudo, menos cinco gols de cabeça no mesmo jogo.
O camisa 10 adotou a história. Gostava de manusear uma revista com a descrição do feito. No ano passado, quando foi entrevistado por Jô Soares, Pelé comentou a façanha do pai. - Meu pai, o Dondinho, era muito conhecido, fazia muitos gols. O Dondinho foi o único jogador que fez cinco gols de cabeça num jogo. Foi meu pai. O único recorde de gols que o Pelé não quebrou foi esse - disse o tricampeão mundial. Em "Pelé Eterno", aparecem pai e filho brincando sobre o feito.
O Rei ironiza Dondinho: "Você não tem gravação disso, tem?". O ex-atacante é obrigado a anuir: "Não...". Afinal, eram tempos bem menos tecnológicos, os registros não eram tão simples. Mas a história resiste. - O jogo aconteceu. Eu vi um recorte de jornal com o relato dele - atesta Aníbal Massaini, diretor de "Pelé Eterno". A foto que está na abertura deste texto é justamente do time do Yuracan de 1939. Dondinho está nela. Trata-se, garantem diretores do clube e moradores de Itajubá, justamente da imagem do dia dos cinco gols. - Consegui a foto com o presidente do clube. Desse jogo, o único registro que temos é essa foto. Mas aqui se comenta muito sobre essa partida. O próprio Dondinho dizia que tinha um recorde que o Pelé não bateu. Comenta-se que ele pulava muito, fazia muitos gols de cabeça. Mas ele não era jogador do Yuracan. Vinha esporadicamente. Não chegou a jogar um campeonato inteiro aqui - comenta Beto Simões Machado, colunista de futebol de um jornal local.
Pesquisa - Magno Moreira
Fonte - Baú do Esporte - http://globoesporte.globo.com