- Leonardo Mendes Júnior
Texto publicado na edição impressa de 30 de maio de 2015
O futebol nacional nunca viveu um momento tão propício à criação de uma liga de clubes que tire da CBF o comando do Campeonato Brasileiro. Visão compartilhada entre os presidentes Mario Celso Petraglia (Atlético) e Rogério Bacellar (Coritiba), em decorrência da operação de combate à corrupção que mandou oito dirigentes para a prisão – entre eles, José Maria Marin, ex-presidente da CBF.
O escândalo que sacode o futebol mundial foi o assunto central da entrevista coletiva em que a dupla Atletiba apresentou seu novo patrocinador conjunto, o aplicativo 99 Táxis. Assim que chegou ao Hotel Bourbon, Petraglia puxou conversa com um grupo de conselheiros do Atlético sobre a reeleição Joseph Blatter. Com Bacellar conversou sobre a coletiva do presidente da CBF, Marco Polo Del Nero. Falou especificamente do abatimento do dirigente.
Logo no começo da coletiva, Petraglia tratou de levantar o assunto. Disse estar triste, porém não surpreso com a descoberta da rede de corrupção.
“Estamos nessa caminhada há 20 anos e enfrentamos o sistema em nível local, nacional e internacional, sofremos por todos esses anos e estamos felizes por um lado, pois temos impressão de que império acabou. Pensei que não fosse viver, mas felizmente tive o prazer e a satisfação de ver isso”, disse Petraglia.
O dirigente chegou a citar “o enfrentamento com o regime em 1997”, quando ele e o Atlético sofreram punições posteriormente revogadas por envolvimento em um esquema de arbitragem. Também relembrou a final da Libertadores de 2005, quando a Conmebol tirou da Arena o primeiro jogo da final com o São Paulo. “Esse senhor que hoje está preso [Eugenio Figueiredo, ex-dirigente da Conmebol] nos tirou a possibilidade de vencer a competição”, afirmou.
Em março, durante o Congresso Técnico do Brasileirão, os dois presidentes posaram com Marin, Del Nero e Ricardo Gomyde para uma foto na sede da CBF. A imagem foi comemorada e compartilhada pelo estafe da candidatura de Gomyde, apoiada pela dupla Atletiba, como prova do endosso da CBF à chapa de oposição. Os dois clubes integram uma comissão que discute, dentro da entidade, mudanças no Campeonato Brasileiro. Também fecharam posição com a entidade por mudanças no texto da MP do Futebol, que renegocia a dívida dos clubes. Confrontados com estes fatos pela Gazeta do Povo, os dirigentes demonstraram irritação.
“O Coritiba e o Atlético não foram à CBF para pedir apoio ao Gomyde. Fomos a uma reunião e o Gomyde foi como meu convidado. Fotografia com o Marin é praxe, todos os clubes fazem. Para mim, não denigre nada”, disse Bacellar.
“Se tivesse que se abraçar com capeta para melhorar o futebol paranaense, acabar com a era Onaireves Moura, Mario Celso Petraglia faria. Não tenho rabo preso com ninguém, de estar ao lado alguém que estiver problemas até ser julgado e condenado”, reforçou o presidente atleticano.
Neste momento, o “abraço” buscado pela dupla Atletiba é com os demais clubes brasileiros. Uma CBF enfraquecida por investigações, CPIs e a prisão de um alto dirigente torna-se mais propícia a ceder à criação de uma liga nacional.
“É só os 20 clubes se juntarem e cobrarem da CBF que assine. Com a desmoralização do sistema, temos o dever de dar um basta”, disse Petraglia, lembrando que o aval é necessário para que os contratos dos jogadores não percam a validade e os clubes ascendam aos torneios internacionais. “Estamos monitorando a criação do torneio Sul-Minas, Sul-Minas-Rio para melhorar a arrecadação dos nossos clubes”, reforçou Bacellar.