O presidente Paulo Nobre convocou uma entrevista coletiva para as 15 horas desta segunda-feira. Pouco mais de 15 minutos depois do horário combinado, ele apareceu na sala de imprensa da Academia de Futebol de maneira agitada, com as mãos trêmulas, segurando um papel. Naquelas anotações, estavam os tópicos de suas explicações sobre a transferência do atacante Alan Kardec do Palmeiras para o rival São Paulo.
A notícia já era esperada. Emprestado pelo Benfica até 30 de junho, Alan Kardec mantinha desde fevereiro uma árdua negociação para permanecer no Palmeiras, que encontrou um investidor disposto a arcar com € 4 milhões (mais de R$ 12 milhões) da sua contratação definitiva. O São Paulo, no entanto, atravessou a transação com uma oferta de € 4,5 milhões (quase R$ 14 milhões) ao clube português e um aumento substancial nos vencimentos do atleta, que já estava irritado com a política de contenção de gastos de Paulo Nobre.
"No sábado, fui comunicado pelo estafe do Alan Kardec, mais precisamente por seu pai, que não havia hipótese alguma de ele continuar no Palmeiras porque já estava apalavrado com o São Paulo. Diante disso, perguntei se poderia ter acesso à proposta para estudar a possibilidade de cobri-la. Fui informado de que isso só aconteceria se o jogador rompesse com o seu pai, que já tinha dado a palavra ao São Paulo e não voltaria atrás", detalhou o presidente palmeirense, que abriria mão de pechinchar se tivesse a oportunidade.
"O Kardec não continua aqui porque não quer. Não mediríamos esforços para mantê-lo", acrescentou, elevando a voz.Novo presidente do São Paulo, Carlos Miguel Aidar também não mediu esforços para vencer a concorrência e ter Alan Kardec. O dirigente chegou a declarar que só negociaria com o Benfica depois que o Palmeiras desistisse da renovação contratual, por respeito ao rival, porém agiu mais rápido do que falou. "Um time entrou no negócio de maneira absolutamente antiética.
O Kardec era jogador do Palmeiras, estava sob contrato e com uma negociação em curso", reclamou Nobre.
O mandatário ainda ressaltou que a relação entre as diretorias de Palmeiras e São Paulo é "péssima" desde a década de 1940. Disse ter recebido telefonemas de presidentes de outros clubes (Mário Gobbi, do Corinthians, ligou para desmentir a intenção de contratar Alan Kardec), interessados no atleta e com outra postura.
"Isso é normal. O que é totalmente antiético é entrar no curso de uma negociação de maneira sorrateira. Todos sabem que os clubes estão desunidos. Do que adianta você se vangloriar de dar um passa-moleque em alguém se continua fraco coletivamente? O que mais me causa estranheza é que o senhor que ganhou a presidência do São Paulo é um dos mentores do Clube dos 13", atacou Nobre, que já havia esquecido completamente o seu papel de anotações àquela altura.
Só não sobraram muitas críticas para Alan Kardec. Após tentar economizar ao máximo, Paulo Nobre pagou o preço do fracasso da negociação com o jogador e assumiu a sua parcela de culpa no desacerto.
"É decepcionante? É. Eu esperava mais consideração por parte do jogador? É claro que sim. Mas devo reconhecer que o Alan nos ajudou, que as carreiras dos atletas são curtas e que eles são imediatistas. Eu mesmo tinha um apreço por ele. Bom, isso é passado e não adianta a gente ficar remoendo", concluiu o desafeto de Carlos Miguel Aidar.
A reportagem entrou em contato com Aidar, mas o mandatário são-paulino avisou que, por ora, não pretende se manifestar a respeito das declarações de Paulo Nobre.
Gazeta Press /yahoo