Cielo vence desafio pessoal e é bi mundial nos 50 m livre

Peter Parks/AFP / Cielo aponta para o céu: agradecimento pela segundo ouro na China
Dentro da água, Cesar Cielo foi incontestável. Com muita facilidade, deslizou ontem na piscina de Xangai para conquistar pela segunda vez consecutiva o título mundial dos 50 m livre. Até então, o feito só havia sido atingido pelo americano Tom Jager, em 1986 e 1991. “Dois ouros e um quarto lugar é melhor do que eu havia imaginado. Esta semana foi um desafio que nunca vi na natação brasileira. Talvez na mundial”, afirmou Cielo.


“Estas medalhas têm um peso maior. É a primeira vez que olho para trás e tenho orgulho de tudo o que passei e superei”, declarou o paulista de Santa Bárbara d’Oeste.



 Nem o italiano Luca Dotto acreditou quando viu o número dois ao lado de seu nome no placar eletrônico. Em seu primeiro Mundial, o nadador de 21 anos já estava satisfeito por ter ido à final dos 50 m livre. A prata foi uma grata surpresa. Campeão olímpico dos 100 m livre, o francês Alain Bernard ficou com o bronze. “Eu acreditava que tinha chance, mas achava meio difícil. Tentei acompanhar o Cesar [Cielo] e pensei: ‘Se estou no ritmo dele, significa que estou bem’”, disse. “Quando olhei o placar, pensei: ‘Não é possível’.”, emendou o nadador, que vibrou mais com a medalha de prata do que Cielo com o ouro. O italiano marcou 21s90, contra 21s92 de Bernard.


Questionado por jornalistas de seu país, Dotto disse que não pensa no que poderia ter acontecido caso o brasileiro tivesse sido suspenso no caso de doping. “Espero, por mim, que ele seja limpo, acredito que seja. Podem discutir se deveria ser suspenso ou não. Mas não tenho que imaginar o que aconteceria se tivesse sido suspenso. Sou vice-campeão mundial e estou muito feliz com isso.”O outro brasileiro na final, Bruno Fratus, terminou em 5.º lugar.
Cielo já havia conquistado o ouro nos 50 m borboleta
e ficado em quarto nos 100 m livre. Hoje, pode participar do 4 x 100 m medley a partir das 7 horas, se o Brasil for à final.


A medalha dourada conquistada em sua prova favorita, na qual foi campeão olímpico e só perdeu uma vez desde 2008 em eventos de primeira linha, fechou a semana em que Cielo mostrou superação e maturidade para ganhar e perder. Foi, porém, contestado fora da água.


Seu caso de doping encerrou-se só às vésperas do Mundial. A Corte de Arbitragem do Esporte (CAS, da sigla em inglês) manteve a pena mínima de advertência dada pela Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA). Cielo testou positivo para o diurético furosemida em maio e disse ter tomado suplemento contaminado.


A pena branda foi criticada em Xangai. Em sua estreia no Mundial, ele ouviu aplausos da torcida e apupos e manifestações vindas de atletas. “Não foi o cenário que eu imaginei, com certeza. Eu, como pessoa, posso dizer que fiquei um pouco chateado. Como nadador, não afeta. Não vim aqui para fazer amigos”, afirmou Cielo.


“Vejo meu indivíduo como duas imagens. O nadador consegue separar os problemas da vida e tirar seu melhor. Como pessoa, é difícil. Ver um cara com quem você conversava e, de repente, nem te dar ‘oi’”, prosseguiu ele, acrescentando sentir-se envelhecido pelo caso. “Agora, não tem como voltar atrás, sou um cara mais preparado e mais confiante do que antes”, concluiu.


O técnico Alberto Pinto, o Albertinho, estava receoso sobre qual seria a reação do pupilo durante o evento. “Não dava para imaginar como ele iria reagir. Estava apostando na força mental dele. Fisicamente, está muito bem. Posso ver como está no treino, mas não sei como é quando vai para casa”, afirmou. “Mas ficou a sensação de dever cumprido.”