Reciclagem de Luxemburgo passa por sua própria história


Motivos não faltaram para que a direção atleticana demitisse Vanderlei Luxemburgo: presença constante na zona do rebaixamento, 15 derrotas em 24 rodadas (o time que mais foi vencido na competição), pífios 29,2% de aproveitamento (o pior do técnico mais vencedor de campeonatos brasileiros) e a goleada impiedosa para o Fluminense no Engenhão por incontestáveis 5 a 1.

A impressão que fica para o clube é que a decisão demorou e quase passou da hora, mas ainda há tempo e time para tirar os quatro pontos que separam o Galo do Avaí, 16º colocado.

Para Luxemburgo, como ele mesmo declarou na coletiva pós-demissão, o momento é propício para refletir e rever conceitos. Reciclar mesmo. A campanha constrangedora – e imune a desculpas como “falta estrutura”, “não fui eu quem montei o elenco”, entre outras – é o ponto mais crítico do ocaso em que a carreira do treinador mergulhou desde a saída do Real Madrid no início de 2006.

O sonho confesso de Vanderlei era dirigir a seleção brasileira, depois se consolidar no cenário europeu, de preferência em grandes clubes, e voltar para o país como manager ou diretor de futebol, com poder total. Com todos os seus planos desfeitos, o que ficou foi um profissional de discurso vencedor, mas com comportamento distante, quase indiferente, e postura dispersa, com a vida dividida entre outros interesses além do futebol.

Se Vanderlei quiser prosseguir à beira do campo, o profissional que precisa emergir dos escombros da maior vergonha de sua vitoriosa trajetória pode e deve mirar nos exemplos bem sucedidos da nova geração de técnicos, como Mano Menezes e Dorival Jr. É recomendável também buscar influências filosóficas em treinadores europeus como José Mourinho, Arsene Wenger e Pepe Guardiola.

Mas, acima de tudo, é dever de Luxemburgo rever suas próprias histórias de sucesso e resgatar o espírito de suas conquistas mais importantes em quase trinta anos como treinador.

A começar pela capacidade de “tirar leite de pedra” através de trabalhos motivacionais e muitos treinos técnicos e táticos. Até porque a tendência é que, junto com o patamar salarial, o nível técnico dos elencos que vier a comandar caia. E a melhor referência é o Bragantino campeão estadual de 1990, com jogadores dispensados por Guarani (entre eles Gil Baiano e Mauro Silva) e Fluminense (Alberto e João Santos) que formaram a base de um time forte que seria vice do Brasileiro do ano seguinte sob o comando de Carlos Alberto Parreira no mesmo 4-2-2-2 típico dos times brasileiros à época.

FONTE - ANDRÉ ROCHA - G1