Brasil esnoba tabu e provocação para atropelar o Uruguai em Montevidéu
Goleada por 4 a 0 no estádio Centenário acaba com escrita de 33 anos sem vitória do Brasil na casa dos uruguaios
Antes de a partida começar, a torcida uruguaia provocou. Mostrou uma enorme bandeira com os anos "1950 e 2014" durante o hino brasileiro. Lembrava o fantasma da final da Copa de 1950 vencida pelo Uruguai, no Maracanã, com um gol de Ghiggia, que estave neste sábado no estádio Centenário. E também fazia uma ilusão à final do próximo Mundial do Brasil, cuja decisão também será no estádio carioca. Mas se os uruguaios idolatravam o passado e tinham esperança com o futuro, simplesmente esqueceram do presente. A seleção passeou em campo e venceu por 4 a 0, gols de Daniel Alves, Juan, Luís Fabiano e Kaká, pela 13ª rodada das eliminatórias sul-americanas para a Copa do Mundo de 2010. Com o resultado, o Brasil fica provisoriamente na liderança da competição com 24 pontos. Mas o Paraguai, que tem o mesmo número de pontos, joga ainda neste sábado contra o Chile, em casa.
Se a geração de Kaká, Robinho e Cia. nunca tinha visto uma vitória da seleção brasileira em Montevidéu sobre o Uruguai, o mesmo não podem dizer os filhos dos nossos craques. Luca, o primogênito de Kaká, João Lucas, o de Juan, Robson Junior, o filho de Robinho, e Giovanna e Gabriella, as filhas de Luís Fabiano, apenas para citar alguns exemplos, tiveram o prazer de comemorar a vitória deste sábado. A seleção acabou com um jejum de 33 anos. A última vitória brasileira na capital uruguaia tinha sido em 1976. Sete jogos aconteceram neste período.
O triunfo melhora um pouco o retrospecto do Brasil contra o Uruguai no Estádio Centenário. Foram 21 jogos, com oito vitórias uruguaias, dez empates e apenas três vitórias brasileiras (a de 4 a 0 deste sábado, e outras duas por 2 a 1: em 1932, com dois gols de Leônidas da Silva; e em 1976, gol de Nelinho e Zico). O resultado também comprovou o bom momento da seleção como visitante nestas eliminatórias. Em sete jogos fora de casa na competição foram três vitórias - Chile, Venezuela e Uruguai -, três empates - Colômbia, Peru e Equador - e só uma derrota para o Paraguai.
O Brasil, finalmente, também conseguiu voltar a vencer dois jogos seguidos nas eliminatórias. A equipe vinha de um triunfo em casa sobre o Peru, em Porto Alegre. A última vez que isso havia acontecido foi no primeiro turno das eliminatórias da Copa de 2006 quando o Brasil ganhou da Bolívia e da Venezuela.
Na próxima quarta-feira, Brasil e Paraguai se enfrentam no Recife, às 21h50m (horário de Brasília). Menos de mil ingressos ainda estão à venda para a partida no estádio Arruda.
Goleiro uruguaio leva um frango histórico
Antes de a partida começar foi respeitado um minuto de silêncio em homenagem às vitimas do voo 447 da Air France que desapareceu na noite do último domingo no Oceano Atlântico com 228 passageiros e 12 tripulantes. Entre eles, 58 brasileiros.
Com a bola rolando, o Brasil parecia sentir dificuldades para tocar a bola. O gramado estava muito ruim. Na véspera da partida, funcionários da Associação Uruguaia de Futebol pintaram o campo de verde para maquiar o estado da grama. A seleção insistia em passes longos. E em um chute despretensioso de Daniel Alves, a 40 metros do gol, o Brasil abriu o placar aos 11 minutos. O lateral arriscou, a bola não ganhou muita força. Mas quicou e enganou o goleiro Viera. Um frangaço. Após o lance, o goleiro uruguaio colocou a mão nos olhos parecendo não acreditar no que havia acontecido. Na comemoração, o lateral beijou uma tatuagem que tem da esposa Dinorá no braço direito. Foi o segundo gol do jogador do Barcelona pela seleção brasileira.
As atuações de Uruguai x Brasil
Os torcedores brasileiros aproveitaram para devolver as provocações e gritaram olé. Mas o Uruguai passou a dominar a partida. Sorte brasileira que Pereira furou um chute dentro da área de forma impressionante. Aos 14 minutos, Pérez recebeu na área e tocou na saída de Júlio César. O árbitro marcou corretamente o impedimento e anulou o gol.
Daniel Alves apareceu novamente duas vezes de forma decisiva. Mas agora para salvar a seleção. Aos 18 minutos, após cobrança de falta, Eguren desviou de cabeça e Pereira apareceu livre para marcar o gol na segunda trave. Mas o lateral conseguiu se antecipar e mandar a bola para escanteio. Logo depois, Forlán chutou cruzado, a bola passou por todo mundo na área, inclusive o goleiro Júlio César, e Suárez estava pronto para tocar para o gol. Mas Daniel Alves, de carrinho, evitou mais uma vez o gol uruguaio.
Ao tentar ajudar a defesa, Luís Fabiano fez falta dura em Suárez. E recebeu o cartão amarelo, que lhe custaria caro na partida mais tarde. Aos 32 minutos, o Fabuloso recebeu passe de Kaká e área e foi derrubado por Godín. O árbitro argentino Saúl Laverni não marcou nada e prejudicou a seleção.
Mas três minutos depois saiu o segundo gol. Elano cobrou escanteio e Juan, livre na área, cabeceou. O goleiro Vieira fez uma difícil defesa. Na sobra a defesa uruguaia chutou de qualquer jeito para fora da área. A bola caiu, de novo, nos pés de Elano. Ele cruzou e novamente Juan cabeceou, agora se antecipando a saída do goleiro uruguaio, para marcar o gol. Foi quinto gol do zagueiro com a camisa da seleção. A torcida brasileira, então, começou a gritar "o Centenário é nosso".
Mas a seleção celeste não desanimou. Aos 38 minutos, Júlio César mostrou porque é um dos melhores goleiros do mundo na atualidade. Alvaro Pereira recebeu livre na área e tocou na saída do goleiro. Mas o brasileiro espalmou para escanteio e salvou o Brasil. No final do primeiro tempo o Uruguai ainda perdeu uma chance incrível. Suárez invadiu a área e chutou. Julio César defendeu. No rebote, o atacante tocou para fora.
E o primeiro tempo terminava quente apesar do frio na capital uruguaia. Após receber uma falta dura de Pérez, Robinho se desentendeu com o marcador. Os dois foram para o vestiário discutindo. Kaká precisou chegar para afastar o brasileiro.
Segundo tempo
O Uruguai voltou para o segundo tempo com uma mudança. Sebastián Abreu entrou no lugar de Diego Pérez. No início, até parecia dar certo. Abreu arriscou um chute de fora da área e Júlio César defendeu no canto direito. Mas o Brasil foi logo mostrando quem mandava.
Em um contra-ataque, Kaká tocou para Elano, que ameaçou o chute, mas rolou para Luís Fabiano. O atacante entrou na área e soltou a bomba no ângulo do goleiro Viera. Um gol com o faro do artilheiro. Brasil 3 a 0. Festa no Centenário. Foi o sétimo gol do Fabuloso nas eliminatórias. Ele se aproximou da artilharia da competição. Botero, da Bolívia, lidera com oito gols.
Logo depois quase saiu o quarto gol. Robinho entrou na área e chutou cruzado. Mas a bola foi para fora. O Uruguai se entregou. Forlán arriscou um chute de fora da área e Júlio César espalmou para escanteio. Mas a seleção celeste não tinha mais o entusiasmo do primeiro tempo.
O Brasil seguiu muito melhor, ameaçando os uruguaios com perigosos contragolpes. Luis Fabiano saiu livre na cara de Viera e teve a chance de ampliar, mas o chute do Fabuloso saiu rente à trave direita do goleiro.
Luis Fabiano é expulso e desfalca Brasil contra o Paraguai
Num lance bobo, o Brasil acabou ficando com um a menos em campo, aos 19 minutos. Luis Fabiano foi lançado no lado direito da área e o goleiro Viera mergulhou nos pés do brasileiro. O Fabuloso saltou por cima do uruguaio e caiu no chão. A arbitragem interpretou o lance como simulação de pênalti e aplicou o segundo cartão amarelo, por consequência, o vermelho.
Logo na sequência, Dunga fez sua primeira substituição, ao trocar Elano por Ramires. Apesar de levar algum perigo em bolas altas, o Uruguai não conseguiu tirar o zero do placar.
Aos 29 minutos, a seleção deu o tiro de misericórdia. Daniel Alves lançou Kaká na área, e o camisa 10 foi derrubado por Godín. O próprio Kaká bateu com estilo e fez 4 a 0 para o Brasil.
A partir daí, o Uruguai tentou de todas as formas fazer um gol de honra. Mas o goleiro Julio César estava em tarde inspirada e não deu sopa para a Celeste. Aos 35, o arqueiro fez defesa espetacular em cabeçada de Abreu. No rebote, voltou a operar um milagre em chute de Suárez.
O próprio Abreu teve outra chance para diminuir, aos 38, mas encheu o pé na pequena área e a bola triscou a trave antes de sair. Satisfeito com o resultado, Dunga tratou de sacar Kaká e Robinho, seus maiores craques, e lançou Josué e Julio Baptista.
A quatro minutos do fim, o Uruguai também ficou com dez em campo. Maxi Pereira deu um chute em Ramires e levou o cartão vermelho direto. O próprio uruguaio reconheceu que se excedeu no lance e tratou de se desculpar com Ramires. Houve um princípio de confusão entre os jogadores, rapidamente dissipado.
Daí até o fim, o Brasil tocou a bola e administrou o resultado.
Ficha técnica:
URUGUAI 0 x 4 BRASIL
Viera, Maxi Pereira, Valdez, Godín (Cavani) e Martín Cáceres; Jorge Martínez, Diego Pérez (Abreu), Eguren e Alvaro Pereira (Alvaro Fernández); Suárez e Forlán.
Técnico: Oscar Tabárez.
Julio César, Daniel Alves, Lúcio, Juan, Kleber; Gilberto Silva, Felipe Melo, Elano (Ramires) e Kaká (Josué); Robinho (Julio Baptista) e Luis Fabiano.
Técnico: Dunga.
Gols: Daniel Alves, aos 11, e Juan, aos 35 minutos do primeiro tempo; Luis Fabiano, aos 7 minutos, e Kaká, aos 29 minutos do segundo tempo.
Cartões amarelos: Valdez e Eguren (URU).
Cartões vermelhos: Luis Fabiano (BRA) e Maxi Pereira (URU).
Estádio: Centenário, Montevidéu (URU).
Data: 06/06/2009. Árbitro: Saúl Laverni (ARG).
Auxiliares: Gustavo Esquivel (ARG) e Ariel Bustos (ARG).